O nativismo na poesia de Gregório de Matos
- Blog Vera Cruz
- 10 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
*Eduardo Minzé do Nascimento
É importante, antes de falar sobre o nativismo em Gregório de Matos, deixar claro do que se trata o termo nativismo. De acordo com o Dicionário Oxford Languages, nativismo é a atitude ou política de favorecer os habitantes nativos de um país, em detrimento dos imigrantes. Ainda há outro dicionário online que associa o nativismo com xenofobia.
Na época do barroco brasileiro, houve alguns movimentos nativistas no Brasil, influenciados pelo descontentamento dos colonos brasileiro com o Pacto Colonial: eles só podiam vender e comprar de Portugal, que nesta época estava tendo dificuldade com o comércio com a Ásia e assim tentava lucrar em cima do Brasil. Os colonos brasileiros, insatisfeitos com o fato dos comerciantes portugueses estarem sempre em vantagem para com eles, começaram com seus movimentos nativistas.
Como a literatura costuma refletir o contexto histórico, é nesse contexto de
insatisfação com a coroa portuguesa que estavam também alguns autores da época do barroco. Isso esteve presente também nas obras de tais autores. Iremos falar sobre Gregório de Matos e o nativismo presente em sua poesia.
Por exemplo, vamos ver o poema “Triste Bahia”:
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado;
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Esse poema reflete bem o nativismo de Gregório, principalmente a partir da segunda estrofe, onde ele acusa os comerciantes estrangeiros, os quais ele chama de brichotes, de serem os culpados pela Bahia estar pobre e triste.
Brichote é um termo usado para se referir aos estrangeiros ingleses de maneira
ofensiva, fazendo referência ao termo british que os ingleses usavam para se referir a eles mesmos, O termo brichote então era uma referência a isso, muito usada na época do barroco.
Ao usar esse termo, intencionalmente o poeta pretendia ofender aos estrangeiros, sendo isto uma marca do nativismo.
Além disso, ele usa o termo “drogas inúteis” para se referir ao que os estrangeiros
comercializavam com o Brasil, em troca do “açúcar excelente” que havia na Bahia. Vemos o tempo todo em outras obras de Gregório de Matos essa valorização do nacional e a desvalorização do estrangeiro, sendo esta mais uma das marcas do nativismo, presente, sobretudo, em sua obra satírica.
O autor é estudante do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe - Campus de Itabaiana.
Como citar o artigo: NASCIMENTO, Eduardo Minzé. O Nativismo na poesia de Gregório de Matos. Blog Vera Cruz, 12/10/2023. Disponível em: https://www.letrascoloniais.com/post/o-nativismo-na-poesia-de-greg%C3%B3rio-de-matos. Acesso em ...
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